sábado, 6 de maio de 2017

E a sensação de dúvida mais uma vez me assombra. Passa por mim como se eu vivesse sob sua sombra constantemente, como se não houvesse um só raio de luz da certeza em todo o horizonte que meus olhos podem ver. E não importa o quanto pareça estar no caminho que me levará ao lugar "melhor", ainda assim estou no escuro. Como se as luzes de emergência se acendessem no corredor para indicar a saída, mas nunca encontro a porta.
E a sensação do estranho mais uma vez que alcança. Ronda minha mente como um abutre faminto, sedento pelo meu sangue que pulsa timidamente nas veias.Como se o pulsar fraco indicasse a morte, a carcaça pronta para ser devorada pelo carnívoro mais próximo. Como se não houvesse nada mais para ser feito para mudar aquele destino.
E o sentimento da raiva mais uma vez me encontra. Como se eu não tivesse conseguido me esconder bem o suficiente. Como se a luz da vela da alegria não a assustasse mais. Como se tivéssemos um caso tão intímo a ponto dela ter a chave da porta, que talvez nem estivesse trancada.
E aquele medo mais uma vez me envolve. Como se eu me encaixasse perfeitamente em seus braços. Como se não tivesse nenhum outro lugar onde eu devesse estar senão ali. Como se sua canção de ninar fosse a única que me fizesse dormir.
E minha vontade de me libertar mais uma vez grita. Como se sua voz fosse espantar todas as assombrações, como se houvesse força em si capaz de assoprar todo o monte de terra que cobriu minhas pernas e eu pudesse levantar e correr. Como se fosse possível me exorcizar da dúvida, fugir do estranho, me esconder da raiva e resistir ao medo.
E minha auto estima mais uma vez me trai. Colocando em xeque cada uma das inseguranças que me impedem de seguir, de ver minha imagem no espelho, de dar força às minhas vontades e acreditar no que eu posso fazer. Me mostrando o quão fraca eu posso ser, o quão incapaz eu sou e passando página por página do meu albúm de falhas. Colcando três defeitos para cada meia qualidade.
E as mãos da tristeza mais uma vez me acolhem. Como se pudessem me fazer colocar toda a frustração em forma de lágrimas, como se eu estivesse em casa. Me calando cada pedaço da dor que eu sinto, me deixando impossibilitada de dizer, de falar, de pedir ajuda. E se a tristeza sabe fazer algo, com certeza é calar. A tristeza cala os sonhos, cala as conexões, cala os laços e cala a esperança. Quando a tristeza joga seu lençol frio sobre nós, nos tornamos cegos. Cegos para as mãos que se estendem para nos levantar, cegos para os braços quentes de quem se importa, cegos para os ombros aconchegantes de quem nos ama e para os sorrisos e olhares de carinho. Nos torna surdos para as palavras doces, paras as canções calorosas das rádios e para os assobios da multidão. Nos prende na redoma da solidão. 
E as garras da insônia mais uma vez me arranham. Como se cada noite fosse apenas um anexo do pensamento. Como se nossas mentes não precisassem de descanso. Como se a noite fosse a extensão do dia, e as dores fossem extensão do corpo.
E as mordaças das enxaquecas mais uma vez me sufocam. Como se não fosse permitidos pedidos de socorro. Como se cada minuto fosse uma hora, e cada hora se estendesse por um dia. Como se a única saída fosse afogar em medicações para aliviar. ALIVIAR. Como se cada porta de saída desse para um novo labirinto que nunca te dessem acesso ao lado de fora do prédio.
E as minhas máscaras mais uma vez se cansam de sair. Como se não houvesse nada em mim que ainda desse conta de seguir. Já que fingir que está tudo bem não é mais uma opção. Como se a necessidade de me isolar justificasse meu fracasso. Como se não houvesse mais botão de "tente novamente" e eu devesse desligar o jogo por uns tempos. Como se pudesse apertar o botão e pausa da vida.


Hanny Writter,
07/05/2017

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não é bem assim...


Duas pessoas: uma busca por cumplicidade. Não parece tão difícil assim, não é? É só saber conviver, ter bons momentos juntos, se divertir, gostar do toque e do que a outra pessoa lhe faz sentir... Mas não é bem assim.
Muitas vezes, mesmo que tudo pareça estar direito, os dois podem não estar satisfeitos. Um por querer mais, o outro, por querer menos.
O rapaz procurou por ela. Ele a chamou para sair, mostrou que tinha pressa, que ela era interessante e que ele não queria perder tempo. Ele, ainda na primeira semana, disse que estava apaixonado, e isso a fez tentar parar de se policiar e permitir que o que ela sentia crescesse. Ele sempre procurava por ela, desde mandar mensagem de "bom dia", até tirar uma noite ou outra da semana pra que eles passassem juntos.
Ela, então, se viu completamente entregue e apaixonada pelo rapaz, que parecia bom demais para ser verdade. Como tão carinhoso? Tão gentil, tão incrível em tantos detalhes. Como um beijo tão bom? Um toque tão marcante, um abraço com um encaixe tão perfeito? Ela só sabia se perder nos encantos, deixar a tal "razão" de lado e se deixar preencher por sentimentos alimentados pela presença dele.
Mas nenhum iria estar satisfeito. Ela queria mais, mais segurança, mais compromisso, mais dele na vida dela, na pele dela, no enroscar de pernas de cada uma das noites ao se deitar. Já ele, ele queria menos, menos investimento, menos divisão de tempo, menos obrigações de relacionamento.
E então? Agora que a moça está apaixonada, mas ele não está mais, o,que fazer? Bem, dizem que quando um não quer, dois não brigam... Então cabe a ela entender que, por mais que ele tenha sido sincero, o tempo deles terminou... E é aí que ela o vê partir... Sem certezas, sem promessas, sem a despedida, sem o toque que faz a pele dela formigar, sem o beijo que ela esperava há dias. Ela precisa deixá-lo ir, mesmo que queira apenas abraçá-lo e pedir que ele fique. Pois é, barbudo do beijo com sabor de pimenta, ela vai sentir sua falta.

sábado, 16 de agosto de 2014

Com o Tempo, passa.

O tempo toca a ferida, mostra em chaga a carne pútrida que parecia ter curado. O tempo dilacera a ferida, a mantendo não só aberta, mas em crescimento, como uma cria demoníaca de seu seio, como uma obra de seu ego infinito. O tempo acerta a ferida, recortando cada parte do ser que a tenta curar, enfraquecendo cada tímido pulsar de vontade, desmerecendo toda a esperança, matando o sistema imunológico da emoção.
 O tempo cria uma nova ferida, para provar sua crueldade, para fazer com que seja provado que uma dor não anula a outra, para que a tortura seja maior do que a morte, para que haja tamanho sofrimento que o ato de sangrar se torne um alívio. O tempo multiplica as feridas, a fim de conquistar o temor do divino, de ser mais cultuado pelo humano do que todos os deuses.
O tempo finge fechar as feridas, para que o homem tenha tanta fé no tempo que o permita controlar sua vida, deixando que o lobo se passe por ovelha. O tempo finge fechar as feridas, para que, mesmo ciente do apetite da saudade, ainda seja dito "com o Tempo, passa".

Hanny Writter,
16/08/2014

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Não há nada pior na vida dela do que a maldição de ser ela mesma. As vezes ela queria acordar e perceber que era tudo um sonho ruim, o problema é que ela simplesmente não consegue dormir. Ela percebe as lágrimas rolarem por seu rosto sem parar, mas ainda sim ela sente que vai sufocar com o nó preso na garganta. Ela não sabe quem culpar, simplesmente busca uma razão para sentir-se assim, se é que existe alguma além dos males que vivem dentro de sua própria cabeça.
Sua vida não é difícil, nunca foi. Ela sempre teve tudo o que precisava para viver... Boas escolas, boas notas, boa família... Embora todos a vejam como uma garota feliz e sempre bem humorada, ela não consegue ser feliz de verdade, seus sorrisos sempre escondem algo. Quando chora, ela chora sozinha, onde ninguém pode vê-la sofrer. Normalmente conta com a presença de longos banhos ou de madrugadas acompanhadas da respiração pesada dos que já dormem. Ela imagina, sozinha, formas de dar fim às suas dores, Aquelas que as pessoas dizem que ela não pode sentir, e que ela passa os dias na tentativa de esconder. É uma pena, para ela, que não tenha coragem de fazer nada, nem para melhorar, nem para fugir.
Assim ela apenas permanece na própria inércia, olhando para o seu álbum de des-conquistas, se livro de orgulho cheio de nada, suas caixas de sonhos vazias, suas planilhas de coisas não planejadas. Sem um sonho, sem nenhum motivo para seguir em frente, ela simplesmente levanta e se deita na luta de encarar cada dia na esperança de que seja o último.

Hanny Writter

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cofissões

"A união dos corpos, a tentativa de ocupar o mesmo espaço, de serem apenas um"

A lua ilumina o quartos, sua presença prateada entra pela cortina semi aberta da varanda e sua luz repousa suavemente sobre a pele clara e curvas do corpo da moça adormecida. Sentado na poltrona e com os pés apoiados na ponta da cama, o rapaz a observa dormir. Ela se mexe, se descobrindo ao rolar, deixando o seio e as pernas bem a mostra, ele analisa cada pedaço de pele exposta e sorri, ela, então, abre os olhos e afasta os cabelos do rosto. A moça mordisca os lábios enquanto seus olhos aproveitam o passeio pelo peitoral que aparece por entre a camisa desabotoada. Eles se olham e trocam silenciosas confissões apaixonadas.
Ela se senta na cama, puxando o lençol e envolvendo-o no corpo nu, dobra as pernas ao lado do corpo e se apoia nos joelhos e mãos, engatinhando até a beirada da cama, senta sobre as pernas dobradas e continua olhando para o rapaz, que apoia o cotovelo no braço da poltrona e se ajeita, observando os movimentos da garota. Ela encosta as pontas dos dedos no rosto dele, deslizando-os pela boca e descendo pelo pescoço, alcança a lateral da camisa e a afasta, deixando o peito do rapaz livre. Volta a mão para o rosto, acomodando-a sobre o maxilar dele e acariciando com o polegar os lábios do rapaz.
Ele põe a mão sobre a da moça e eles ficam assim por alguns instante até que ele coloca os pés no chão, desliza a mão pelo pescoço da moça até a nuca dela e a beija, eles se aproximam, se abraçam e se olham trocando carícias entre um beijo e outro.
Ele se levanta da poltrona e vai para a cama, apoiando o seu corpo sobre o dela e acariciando as curvas femininas enquanto a beija. Os beijos e carinhos vão ficando cada vez mais íntimos e intensos, retirando a roupa dele e descobrindo o corpo dela, permitindo a união dos corpos.
União dos corpos... Não apenas sexo, não apenas uma noite. A união dos corpos, a tentativa de ocupar o mesmo espaço, de serem apenas um, os corações batem no mesmo ritmo, as línguas estão na mesma dança, os quadris sincronizados com as almas, as mãos dadas, as pernas entrelaçadas, eles estão completos.

Hanny Writter (Erika Amaral)
21/11/2013

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A última rodada


http://www.youtube.com/watch?v=LSucnC2lxIY

 A garota estava assustada, seu coração parecia estar sendo pisoteado pela guerra interna entre razão e sentimento. Ela estava cansada, gasta, farta... Não conseguia simplesmente fazer de conta de que nada estava acontecendo. A indiferença dele era o que a fazia sentir como se fosse implodir, primeiro o coração, depois a cabeça, e, então, seu corpo iria cair aos poucos. 
 Ela estava descrente, nenhuma promessa, nenhum pedido de perdão, nada a convencia. Ela apenas disse "Não promete, só me mostra que eu estou errada" e assim ela terminou uma conversa com o coração mais leve mas com aquele nó na garganta que ainda incomoda tanto. "Será que eu não falei tudo? Será que falta alguma coisa?! É isso mesmo que eu quero? E se já estiver quebrado e não tiver mais conserto?" E o medo de contar novamente com ele e ser deixada na mão novamente. 
 Ela não sabia o que doía mais: falar que essa era a última chance ou saber que realmente era a última chance. Mas, maior do que a vontade de tentar fazer funcionar mais uma vez, era o medo de só se machucar mais, de piorar, de que isso só fosse o tiro de misericórdia, "Será que essa é a solução?! Não seria melhor simplesmente acabar aqui? Sentimento estúpido! É só isso que me prende a ele...". É isso que chamam de amor? Haviam contado para ela que o Amor "é ferida que dói e não se sente", mas ela sente doer, queimar, arder, machucar... Então não seria amor? Se não é amor... O que é?
 Ela continua sofrendo sozinha, olha em volta e acha as marcas das lágrimas, na mesa, no travesseiro, no rosto. E o que ela deveria fazer para querer estar com ele, para voltar a sentir a saudade de antes, para sentir falta do beijo dele, para novamente querer acordar debaixo do mesmo cobertor? Não é só a mudança dele, mas a mudança dela. Ela precisa ser conquistada novamente? Será que aquele tempo todo que passou de desgaste dela e indiferença dele pode ser recuperado? "E se já estiver quebrado e não tiver mais conserto?". Ela respira fundo mais uma vez, passa a mão no cabelo e imagina as possibilidades. "Se funcionar, se voltar a ser como deveria ter sido desde o começo, se melhorar, se mudar... Será que o primeiro erro que acontecer vai terminar tudo mesmo com todo o esforço dedicado para resolver? E se, mesmo dando essa chance ele não mudar? E se não adiantar mais. Quanto tempo mais eu vou dedicar para uma tentativa de reerguer um relacionamento falido?
 Não havia garantias, mesmo se houvesse ela não acreditaria. Não tinha nada que ele pudesse dizer, nada que ele pudesse prometer, que a fizesse sentir esperança, ela só estava desconfiada, cada passo dela era dado com precaução, com medo, testando o chão antes para não cair no buraco. Mas parecia muito mais assustador não ter mais o rapaz na vida dela. O problema é que, talvez um dia, ela precise seguir sozinha. Ela precisa melhorar a própria percepção, porque se acabar ela que vai ter que soltar os laços. 
 "Não é mais a ausência dele que me incomoda, é perceber que eu já não sinto falta como antes." Mas a chance tinha que ser dada, ela não conseguiria conviver com a própria consciência se soubesse que não fez tudo que podia, que não gastou todas as tentativas, que jogou todas as fichas. Se ela não corresse todos os riscos, ela não sentiria completa, não encontraria o final da rua. Ela disse o que ele precisava saber para dizer se queria ou não tentar mais uma vez, mostrou todas as possibilidades, tanto de dar certo quanto de dar errado e ele sabia também que era a última "ficha" que ela ia jogar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Para o azul e laranja da minha vida

Foto: eu e minha priminha (:



Queria o mundo ser belo,
Belo como és tu.
Belo como o sorriso que brota em ti,
Com a beleza que só existe em uma.


Cada pequena parte me sauda,
Me alegra...
Cada pequena parte de ti,
Detalhes que busquei no espelho, mas não vi.


Do branco puro de tua pele,
Ao toque quase sombrio de teus pensamentos.
São teus e só,
E esse excêntrico fascina.


Sobre fascinação posso dizer
Que, apenas em te ver,
Qualquer mortal se encanta,
Como fosse tu mitológica.


Mitologia, dizes, não existe,
Mas não fiques triste,
Pois cada mera ideia é real
Desde que se acredite.


E minha crença é forte,
E creio desde criança,
Naquela que me ensinou minha dança,
Nos versos de seu carinho.


Versinhos soltos para minha priminha, que tanto amo (:
Hanny Writter,  20/09/2012