quarta-feira, 30 de março de 2011

Próximo de conto de fadas


"Bom dia, gatinho! Espero que tenha dormido tão bem quanto eu!"

No dia seguinte, ela acorda com uma sensação extremamente boa, mistura perfeita de felicidade e prazer. Após se espreguiçar como um gato, se vira na cama e vê a materialização da solução de todos os seus problemas. Os olhos fechados, rosto sereno de quem ainda dorme, pescoço convidativo, ombros largos, peito nu, músculos bem trabalhados, mãos soltas, uma sobre o peito e a outra esticada ao lado do corpo, corpo que emana o calor mais confortável e acolhedor que ela conhece, o corpo dele. Ela se aproxima, passa um braço sobre o tronco dele enquanto acaricia os cabelos lisos com a outra mão e ali fica, como se quisesse segurar aquele momento para sempre, mas ela não pode... O fim de semana acabou.
Depois de passar o máximo de tempo que podia deitada ao lado dele, ela junta as suas coisas, volta ao quarto, afasta os cabelos dele e dá beijos de despedida, um na testa e outro nos lábios, com todo cuidado para não acordá-lo, e sai. Sai com a sensação do toque na pele, e o coração batendo apertado de saudade. Sentada na poltrona do avião, repete o que fez quando estava fazendo o percurso inverso, pega o celular, beija a ponta dos dedos e os desliza sobre a tela, cujo o fundo é uma foto dele, pensando em quando o verá novamente.
Não tem nem uma hora desde que ela saiu do apartamento e, dentro dela, parece que faz uma eternidade, mas ela sorri ao pensar em como vai ser quando ele acordar... Enquanto ela pensa nas probabilidades no avião, ele acorda, naquele quarto que ainda tem o cheiro dela. Acorda e se vira para o lado dela na cama, como se conseguisse abraçar a essência que ela deixou ali. Mesmo sabendo que ela não está e que vai fazer falta, ele sorri, sorri porquê vê um bilhete em cima do criado mudo, ao lado da cama.
Se levanta, apanha o bilhete e lê "Bom dia, gatinho! Espero que tenha dormido tão bem quanto eu!" ele sorri, sabendo que ela só dorme realmente bem quando estão juntos, tirando isso, a insônia é mais forte, "Bem, adoraria estar contigo agora, pra te dar um beijo de bom dia! De qualquer forma, espero que você possa sentir um pouco de mim até nos vermos de novo. Já estou com saudade! Sua Ela". Ele olha de novo pro papel, o coloca cuidadosamente sobre o criado-mudo de novo e se levanta.
Entra no banheiro, e, quando pega a escova de dentes, nota outro bilhete, colado no espelho. Se aproxima mais e lê "Olha bem pra este espelho..." ele desvia os olhos do bilhete por alguns segundos e volta rapidamente a lê-lo, "Este rosto que você vê é tudo que eu queria poder encontrar todos os dias ao meu lado... E você fica ótimo com o cabelo bangunçado! hehe Sua Ela" ele ri, lembrando dela mexendo no cabelo dele enquanto sorria.
Ele se arruma e vai para a cozinha, lá ele encontra a mesa feita e mais um bilhete. "Se cuida... E espero que você goste de pão-de-queijo, haha! Sua Ela" ele toma o café, recolhe o que precisa e vai pra porta de saída, onde encontra mais outro bilhete, pregado na porta, sabendo que este será o último. "Tenha um bom dia, espero te ligar quando chegar em casa, só pra dizer que cheguei bem, sabe? Essa enrolação toda foi só pra dizer uma coisa: Eu te amo! Sua Ela" ele desliza a mão pelo bilhete e leva a mão até maçaneta, com a certeza de que aquilo era tudo que precisava saber.

Hanny Writter, 30/03/2011

sábado, 26 de março de 2011

Bandeira branca




"Oi, sei que não devia te procurar, né?"


E ela se lembra novamente dele. O "ele" que ela não consegue substituir, esquecer, apagar, enterrar, ele! Não importa o quanto outros a tentem entreter, ocupar, flertar, conquistar. Como agora, em que ela se deu conta de que não pode evitar voltar para ele, como ela percebeu isso? Conversava com um outro, "qualquer outro" como parecia ser para o coração da moça, e ao olhar nos olhos deste outro, ela não encontrou nada do que procura.
Como o "nada" pode ser vazio, triste, insatisfatório... e ela não queria o nada, não mais. Precisava voltar para ele, o ele de sempre, o ele da música, do sofá, das risadas, das promessas que não foram feitas, dos sonhos e idealizações. Ela precisava voltar para ele. Um sorriso nostálgico e levemente dissimulado ilumina o rosto feminino, fazendo "o outro" ficar confuso, ela se levanta, pega sua bolsa e sai, conseguindo apenas falar "Foi ótimo estar com você, mas preciso ir". Ir.
Procura o número dele na agenda, se apressa para mandar mensagens pelos ares, para buscá-lo e trazê-lo de volta. "Oi, sei que não devia te procurar, né?" ela sorri e morde o lábio, "mas sinto sua falta." mensagem enviada, agora ela nem precisa de um táxi. Corre pelas ruas enquanto planeja a viagem, checa a carteira, chega em casa com a sensação de ter descoberto a melhor das sensações.
Põe tudo que vê dentro da mochila, enquanto avisa a quem fica que está indo. Indo. Com o maior dos sorrisos, se senta na poltrona do avião e olha mais uma vez a foto dele antes de desligar o celular, "Já estaremos juntos de novo", beija a ponta dos dedos e os desliza pela tela antes de alcançar o botão de desligar.
Todas as nuvens do caminho são perfeitas e se parecem com alguma coisa, como os olhos dele, o sofá da sala, o ursinho de pelúcia que ela deu, o edredom enrolado...
O coração pula no peito feito pipoca na panela em dia chuvoso de ficar abraçado assistindo tevê, o avião pousa, inquietude total dentro dela. Ela recolhe suas coisas e se prepara para encarar a cidade.
Chega ao prédio dele, examina cada um dos andares até olhar para a janela dele, imaginando o quanto dela ainda está lá dentro. Passa pelo portão, ouvindo o eco de cada um dos seus passos no saguão, hesita antes de entrar pelo elevador, volta ao balcão e pede para alguém avisá-lo que ela está . Sim, ela foi! A recepcionista sorri e ela sabe que tem permissão para subir, entrar no apartamento e na vida dele mais uma vez.
Quando se depara com a porta, pensa se deve entrar ou tocar a campainha, abaixa a cabeça, fecha os olhos e engole uma lágrima antes de se decidir... mas a porta se abre antes mesmo que ela possa se preparar. Ela levanta a cabeça, surpresa, e seu olhar encontra o dele. Ele sorri e a abraça, "Senti saudade também" ele diz ao passear com os dedos pelo rosto dela, acompanhando o rastro da lágrima que ela não conseguiu conter. Lágrima de felicidade, medo, arrependimento e vontade de tentar de novo. Ela só sorri e o abraça como se quisesse fundir o corpo ao dele.
Os dois entram pela sala, mãos dadas, comentam sobre algumas lembranças que encontram no tapete, no sofá, no aparador, na janela. Ele não precisa falar mais nada, ela sente, talvez ele a ame.

Hanny Writter, 26/03/2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Quem sabe a verdade?


"Algumas vezes na vida você só precisa de que as coisas aconteçam de forma diferente, sabe?"


Ela continuava parada, encostada na porta, como se esperasse alguma solução cair do céu. Não dizia nada, nem tentava, parecia querer chorar desesperadamente... como criança, que se joga no chão e grita até conseguir o que quer, o problema é que nem ela sabia o que queria. E ele continuava sentado no sofá, esperando ela se pronunciar, afinal não havia como argumentar contra ou a favor de algo que não se sabe o que é. Ela suspirou, como se o ar a machucasse por dentro, mordiscava novamente o lábio, "Não consigo explicar tudo isso, não sei quando começou..." ela disse, "se é que começou...", aquilo saiu como uma guerra de navalhas dentro dela.
"Em um dia a gente conversava como se não houvesse possibilidades de isso tudo ser mais do que amizade, no outro você disse me amar", ela sorriu, sorriso de desilusão, sabe como é? "Mas num terceiro dia, você simplesmente sumiu... sumiu..." olhares sem rumo, procurando algo no chão. Mas como ele poderia ter feito isso? Não foi ele quem disse que ela era especial? Que algo nela o fazia querer sorrir, estar perto, segurar as mãos, abraçar? Como ele podia mudar de idéia como se fosse um par de sapatos?
"E depois viram e dizem que as mulheres são de lua, são complicadas...", ele olhou pra baixo, levantou a cabeça e o olhar de repente, como se fosse começar a falar, mas ela continuou antes "Eu te contei que era sempre assim, lembra? Ou eu não me apaixono, ou simplesmente o cara some, agora quero saber o que aconteceu com o garoto que prometeu que seria diferente!", esse garoto seria ele? Será que ele realmente havia prometido algo? Não houve promessa, mas algo que ele fez ou disse fez com que parecesse que ele se importava ao ponto de querer mudar a situação.
"Algumas vezes na vida você só precisa de que as coisas aconteçam de forma diferente, sabe?" ela disse enquanto a sua voz deixava claro que ela queria chorar, "eu só queria acreditar que podia ser diferente, que eu podia me apaixonar e isso me faria feliz. Eu não queria motivos pra escrever, a não ser que o motivo fosse você comigo." Na cabeça dele o "comigo" se repetia diversas vezes, como um eco, como se ele estivesse sozinho no meio do nada e as palavras fossem gritadas de algum lugar. Ele podia se importar, mas era melhor ela acreditar que não era verdade.
"De que adianta você ser perfeito pra mim se não quiser ser meu?" aquela frase soou mais sufocante e possessiva para ela do que para ele, talvez ele nem estivesse mais a ouvindo, deveria estar pensando no tom do próximo verso daquela música. Ela se desencosta da porta, anda de um lado para o outro, parecendo buscar uma saída de emergência, se senta no chão, vencida pela pancada que vinha de dentro para fora. "E por que eu acreditei em algo que você não me disse? Por que eu fui iludida pela história que criei dentro da minha cabeça? EU SABIA que você ia me deixar assim, você já tinha feito isso antes..." suspirava forte, "já tinha feito antes!".
Ele parou de olhar pro papel em cima da mesa, respirou fundo, olhou para a garota patética, sentada no chão, cabelos parcialmente presos em rabo-de-cavalo, a franja toda na cara como sempre usava, engraçado como aquele cabelo bagunçado a fazia parecer bonita, "Você mesma já disse, eu não prometi nada, eu não podia. Eu não falei o que não podia cumprir, não fiz juras, não disse que iria ficar. Se eu disse que te amo, talvez eu ame, ou só fale sem certeza... Assim como você não sabe o que sente agora, eu posso ter me confundido com que senti...", ele parou de falar e a olhou, esperando resposta. "Eu posso ter confundido o que senti?" ela pensava, indignada, "Como alguém pode confundir isso?" julgava sem perceber que ela possa ter confundido o amor também. "Olha..." ela começou a falar novamente, "Não sei o que você tava pensando, qual era sua intenção... mas..." ela precisou parar para engulir a seco, "mas você não pode sai dizendo 'te amo' por aí, sabia? O coração de uma garota é muito mais frágil do que você pensa, e as consequências de partir um coração feminino são maiores do que você imagina, querido."
"Querido" é o apelido carinhoso que, com aquele tom de ironia que ela tem, consegue ser pior do que ser xingado de formas muito baixas, mas ele fingiu não perceber, ela estava ferida só isso, já passa e quando passar ela vai estar apaixonada por ele ainda, sempre foi assim e ele sabia. Será mesmo que ela é só um brinquedo para ele?


Hanny Writter, 16/03/2011