sábado, 9 de abril de 2011

Surpresa


"finalmente, os lábios se tocam."

Ela permaneceu imóvel, pela sensação daquele toque, como uma bailarina que espera a
condução do cavalheiro no início da dança. Ela sabia de quem eram os dedos pousados sobre seu
ombro direito, ninguém mais era capaz de lhe causar tal sensação, de calor, formigamento,
coração exaltado e acolhimento! Mas o que ele estaria fazendo ali?
Ela se vira, sorridente, para encontrar o olhar amado, recebendo o abraço forte e carinhoso
como "oi". Os dedos da moça deslizam dos ombros definidos dele até a curva do maxilar, onde os
dedos da mão direita ficam, e a mão esquerda continua o passeio até envolver a nuca do rapaz,
quando, finalmente, os lábios se tocam. Ela achava impossível que ele fizesse uma surpresa
daquela, mas entrou, feliz, no carro para aproveitar a noite que foi planejada só por ele.
Por mais que ela saiba exatamente onde vai terminar o passeio, cada um dos passos que a
levarão até o fim serão parte de uma lembrança sem igual, com certeza. Ela o ama.

Hanny Writter (Erika Amaral)
08/04/2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sozinha



"é isso? só isso? depois do silêncio isso é tudo que ele tem a dizer?"


Ela passou a mão nos cabelos, desesperada, um suspiro, passos que vem e vão na sala vazia. Sozinha, dolorida e sem certezas, que diabos seria isso tudo? Essa coisa de altos e baixos sempre consegue ser cruel, sabe? Ela checa o celular mais uma vez, o coração pula ao ver a foto dele, mas logo se aperta, por não haver nenhuma mensagem ou ligação vinda do mesmo garoto que sorri no fundo da tela. O que ele está fazendo agora?
A garota se joga na cama, cansada de criar teorias que tenham finais felizes, que tenha uma finalidade para o amor que ela carrega no peito. O coração é um fardo pesado, vivo, indomável, não segue regras, não obedece, não se deixa calar. O coração grita, esperneia, explode dentro da garota, que não consegue ser forte o bastante para tentar segurá-lo, fazê-lo se calar, ficar quieto dentro do peito e aceitar que a dor que ela sente já é o bastante.
Enquanto ela rola sozinha na cama, procurando conforto, o celular apita, ela, estática, precisa conter novamente o coração, que salta loucamente por dentro, ansioso pela mensagem. Ela respira fundo antes de criar coragem para ler, primeiro o destinatário, depois a mensagem. Observa a luz da tela se apagar e, só então, pega o aparelho, continua olhando a tela apagada, vendo o reflexo dos seus olhos apreensivos, "Será que é ele mesmo?" fecha os olhos enquanto aperta o botão, conseguindo perceber a iluminação da tela pela pálpebra cerrada, suspira e abre os olhos, conseguindo ler o nome dele. Se apressa para abrir a mensagem "Tá acordada?", ela passa a mão pelo rosto e pensa "é isso? só isso? depois do silêncio isso é tudo que ele tem a dizer?" mas só consegue responder "Estou."
Não importa o quanto ela tente ficar nervosa, o quanto ela tente brigar com ele, o quanto ela queira odiá-lo as vezes, ela simplesmente o ama e não pode mudar isso. O rapaz é seu dono, o coração, o capitão, ela a escrava e não consegue nem ter certeza se quer alforria.

Hanny Writter, 05/04/2011

sábado, 2 de abril de 2011

A ansiedade


"Eu sempre fui sua..."

Ela se olha no espelho mais uma vez, os dois lados do rosto, do corpo no vestido, os sapatos,
brincos. Sorri, fecha os olhos e se prepara para sair de casa e encontrá-lo. Tenta imaginar como
seria a vida dela se nunca tivesse voltado atrás, voltado para ele, mas não consegue imaginar,
pois a alegria que explode dentro peito quando pensa que estão juntos é sempre maior. Dirige
pelas ruas que levam até onde ele está, o ritmo cardíaco aumenta enquanto a distância diminui,
sorrisos inquietos, olhares constantes para o retrovisor, o pé que pesa sobre o acelerador, dedos
que apertam o volante...
Agora, com o carro parado rente ao meio-fio, motor desligado, ela olha para o céu pelo pára-brisa,
suspira e sussura "Cheguei...", mordisca o lábio, se olha rapidamente no espelho, ajeita a franja
que cai sobre o rosto, pega a bolsa e sai do carro. Anda em direção à porta do restaurante, onde
pára pela última vez para tentar conter o coração louco, desesperado e esfomeado de saudade.
Levanta a cabeça, sentindo-se poderosa por causa do salto alto e entra pelo restaurante, segura
de si mesma. Quando os olhos dela pousam sobre a imagem dele, sentado de costas para a porta,
olhando pela janela, distraído. Os ombros largos, a camisa social clara de mangas dobradas até
metade do antebraço, a calça jeans, os cabelos bagunçados, ela sente como se os joelhos
fossem gelatina.
Mais do que depressa, ela vai ao encontro dele, chega silenciosa, passa os braços pelos ombros
do rapaz e beija o pescoço dele, um toque leve dos lábios, na fonte do cheiro que só ele tem. "Que
saudade", ela diz ao passar os lábios suavemente pela orelha dele, ele beija as mãos dela, se
levanta e a olha enquanto sorri.
Em instantes ele a olha, o vestido curto e levemente decotado, o pingente que enfeita o colo, os
sapatos de salto, as pernas, o rosto corado, os olhos lindos, os cabelos que caem sobre os ombros,
ele passa o braço pela cintura dela e a puxa para perto, "Você tá linda..." ele diz enquanto a olha
nos olhos e desliza os dedos pelo contorno do rosto dela, que sorri e abaixa a cabeça deixando com
que a franja caia sobre o rosto. Ele afasta os cabelos dela, escorrega a mão até a nuca da garota e
se aproxima, olhando para os lábios dela, enquanto ela fecha os olhos e sente a respiração dele, o
hálito fresco no rosto, o toque dos lábios, a língua úmida.
Não fazem idéia do tempo que se passou entre o beijo e agora, os dois abraçados, o lençol que
cobre a união dos corpos, as mãos dadas, a sensação de "felizes para sempre". Ele mordisca a
orelha dela enquanto sussura "Quero você pra sempre", ela sorri e repete "pra sempre!". ela se
vira de frente para ele, mexe nos cabelos bagunçados dele, olha para cada traço daquele rosto
amado, o beija e diz "Eu sempre fui sua...". Ele a abraça, beija-a na testa, a aperta contra o peito
e canta baixinho alguma música que ela possivelmente vai se lembrar quando estiver sozinha em
casa.

Hanny Writter, 02/04/2011