quarta-feira, 16 de março de 2011

Quem sabe a verdade?


"Algumas vezes na vida você só precisa de que as coisas aconteçam de forma diferente, sabe?"


Ela continuava parada, encostada na porta, como se esperasse alguma solução cair do céu. Não dizia nada, nem tentava, parecia querer chorar desesperadamente... como criança, que se joga no chão e grita até conseguir o que quer, o problema é que nem ela sabia o que queria. E ele continuava sentado no sofá, esperando ela se pronunciar, afinal não havia como argumentar contra ou a favor de algo que não se sabe o que é. Ela suspirou, como se o ar a machucasse por dentro, mordiscava novamente o lábio, "Não consigo explicar tudo isso, não sei quando começou..." ela disse, "se é que começou...", aquilo saiu como uma guerra de navalhas dentro dela.
"Em um dia a gente conversava como se não houvesse possibilidades de isso tudo ser mais do que amizade, no outro você disse me amar", ela sorriu, sorriso de desilusão, sabe como é? "Mas num terceiro dia, você simplesmente sumiu... sumiu..." olhares sem rumo, procurando algo no chão. Mas como ele poderia ter feito isso? Não foi ele quem disse que ela era especial? Que algo nela o fazia querer sorrir, estar perto, segurar as mãos, abraçar? Como ele podia mudar de idéia como se fosse um par de sapatos?
"E depois viram e dizem que as mulheres são de lua, são complicadas...", ele olhou pra baixo, levantou a cabeça e o olhar de repente, como se fosse começar a falar, mas ela continuou antes "Eu te contei que era sempre assim, lembra? Ou eu não me apaixono, ou simplesmente o cara some, agora quero saber o que aconteceu com o garoto que prometeu que seria diferente!", esse garoto seria ele? Será que ele realmente havia prometido algo? Não houve promessa, mas algo que ele fez ou disse fez com que parecesse que ele se importava ao ponto de querer mudar a situação.
"Algumas vezes na vida você só precisa de que as coisas aconteçam de forma diferente, sabe?" ela disse enquanto a sua voz deixava claro que ela queria chorar, "eu só queria acreditar que podia ser diferente, que eu podia me apaixonar e isso me faria feliz. Eu não queria motivos pra escrever, a não ser que o motivo fosse você comigo." Na cabeça dele o "comigo" se repetia diversas vezes, como um eco, como se ele estivesse sozinho no meio do nada e as palavras fossem gritadas de algum lugar. Ele podia se importar, mas era melhor ela acreditar que não era verdade.
"De que adianta você ser perfeito pra mim se não quiser ser meu?" aquela frase soou mais sufocante e possessiva para ela do que para ele, talvez ele nem estivesse mais a ouvindo, deveria estar pensando no tom do próximo verso daquela música. Ela se desencosta da porta, anda de um lado para o outro, parecendo buscar uma saída de emergência, se senta no chão, vencida pela pancada que vinha de dentro para fora. "E por que eu acreditei em algo que você não me disse? Por que eu fui iludida pela história que criei dentro da minha cabeça? EU SABIA que você ia me deixar assim, você já tinha feito isso antes..." suspirava forte, "já tinha feito antes!".
Ele parou de olhar pro papel em cima da mesa, respirou fundo, olhou para a garota patética, sentada no chão, cabelos parcialmente presos em rabo-de-cavalo, a franja toda na cara como sempre usava, engraçado como aquele cabelo bagunçado a fazia parecer bonita, "Você mesma já disse, eu não prometi nada, eu não podia. Eu não falei o que não podia cumprir, não fiz juras, não disse que iria ficar. Se eu disse que te amo, talvez eu ame, ou só fale sem certeza... Assim como você não sabe o que sente agora, eu posso ter me confundido com que senti...", ele parou de falar e a olhou, esperando resposta. "Eu posso ter confundido o que senti?" ela pensava, indignada, "Como alguém pode confundir isso?" julgava sem perceber que ela possa ter confundido o amor também. "Olha..." ela começou a falar novamente, "Não sei o que você tava pensando, qual era sua intenção... mas..." ela precisou parar para engulir a seco, "mas você não pode sai dizendo 'te amo' por aí, sabia? O coração de uma garota é muito mais frágil do que você pensa, e as consequências de partir um coração feminino são maiores do que você imagina, querido."
"Querido" é o apelido carinhoso que, com aquele tom de ironia que ela tem, consegue ser pior do que ser xingado de formas muito baixas, mas ele fingiu não perceber, ela estava ferida só isso, já passa e quando passar ela vai estar apaixonada por ele ainda, sempre foi assim e ele sabia. Será mesmo que ela é só um brinquedo para ele?


Hanny Writter, 16/03/2011

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